A busca

A busca
Parece apetitoso. E é.

Estamos num dilema entre não ter diabetes e o meu Fear Of Moussing Out.

Este texto, ao contrário do que a imagem indica, não é sobre mousse de chocolate. Nem tão pouco sobre o que a torna boa ou má. Nem muito menos sobre qual é a melhor mousse de chocolate. Este texto é sobre a procura daquilo que mais gostamos, e por isso, aplicável a toda e qualquer busca, caso assim o desejem. Se não desejarem, há bom remédio: não apliquem.

A procura pode ser perigosa. Leva a obsessões, a paixões desmesuradas, a atos de loucura que nunca sabemos bem explicar. E pior do que procurar desenfreadamente, é não saber bem o que se procura. Uns procuram o amor, outros a felicidade, há ainda quem procure a fama e o proveito.

Eu só procuro a melhor mousse de chocolate.

Quero acreditar que é uma busca exequível. Se fazem concursos de melhor Pastel de Nata, há motivos para crer que existe um painel, sapiente em matéria de textura, sabor, consistência, apresentação, que avaliará centenas, senão milhares de mousses de chocolate por este país fora. Fui pesquisar, como podem ver a seguir.

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Aparentemente, não há. O que muito me entristece, mas também me traz a esperança de, um dia, me convidarem. Mas isto também significa que a busca pode continuar. E não quero que interpretem isto como uma tentativa de influenciar gostos ou de direcionar todo o mundo para A melhor mousse. Até porque quem me conhece e sabe o porquê de eu estar aqui a escrever sobre comida, ou fazer (poucos) vídeos sobre isso aqui não é, e nunca será, sobre O MELHOR PREGO DA MARGEM NORTE ou A MELHOR PESCADA COZINHA COM GRELOS DO BAIXO MONDEGO.

O melhor é sempre subjectivo.

E quem sou eu para impingir ou decidir o que é melhor? Quanto muito, posso dizer quais as minhas favoritas. E é nisso que assenta a minha busca: pela minha mousse de chocolate favorita, ou se quiserem, preferida.

Qual é o problema com a busca?

É que acabo a comer muita mousse de merda.

Não literal, obviamente (que nojo). Mas já tive a sorte de me cruzar com muito boas mousses. E quando o nivelzinho se põe para cima, descer fica muito complicado. A questão é que eu padeço de FOMO: Fear Of Moussing Out. E se no sítio mais improvável, peco por não experimentar a mousse? E se aquela mousse é a minha favorita, mas eu deixo passar? Todas as fibras do meu corpo vibram com a hipótese de aquela mousse ser A mousse. Eventualmente, uma foi. Outras também lá chegaram. Mas muitas delas não e apenas serviram para alimentar a minha busca e o meu momentâneo desejo de açúcar. Mas a que custo? Já comi muita mousse que garantem que é caseira, mas vem numa tacinha de policarbonato, com os ingredientes todos expostos numa etiqueta industrial, made in fábrica. Já degustei muita sobremesa que parece uma coisa, e após a primeira colherada, se desfaz e torna noutra, tal como os meus sonhos e ambições. E seria injusto da minha parte se não dissesse que já comi verdadeiras obras de arte, maioritariamente vindas directo do barranhão, com um ou outro pormenor a completar o seu sabor. A busca custa, mas em última análise, compensa. E alimenta um só propósito, na sua medida egoísta: achar a melhor mousse, para mim, significa que só partilharei esse segredo com quem eu achar merecedor, e acima de tudo, significa que existe um prazer privado, que não preciso de partilhar com meio mundo e outra metade, porque normalmente, quando todos sabem um segredo, ele deixa de o ser. E isso leva à sua perda de identidade e, consequentemente, fica banal. E de mousses banais, estão esses cardápios cheios.

Por isso mesmo, não partilho toda a informação das minhas provas, mas há iniciativas online que nos facilitam e encorajam a busca, como é o caso dos Mousse Boyz, mas até ali parece que se resignaram e encontraram o seu pódio de preferências. Mas há que louvar o seu esforço: 119 mousses documentadas, classificadas de forma decimal de 0 a 10. Não conseguiria ir tão longe, e fica aqui o agradecimento a tão singela, mas fundamental ferramenta na demanda. É aí que se mede o verdadeiro amor a uma sobremesa tão querida e desejada por esse país fora, mais do que baba de camelo (em franco retorno às ementas nos últimos tempos), do que arroz doce (talvez, posso estar a atirar-me para fora de pé) e do que Molotov (aqui tenho a certeza). Deixo então um conselho de um medroso: sempre que a vossa sobremesa favorita estiver no menu, não peçam a fruta da época. Arrisquem! Melões há muitos, mas mousses...

P.S.: como prometi, segue a minha lista de mousses preferidas, e uma história pessoal sobre mousse de chocolate. Mas só dá para ver se forem membros. Ups.